quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Poesias, pra quê?

Lembro-me bem do ciúme. De quando achei aquele caderno de poesias adolescentes, que no auge de suas paixonites avassaladores por aquelas putas - desculpe-me o termo, sendo uma revolta literária eu deveria dizer "meretrizes" - você escreveu e deixou guardado na gaveta, como troféu do seu sentimentalismo barato. Pois não ligo. Ou ligo sim, porque pra mim, que estive aqui até naquela sua merda de resfriado - desculpe-me novamente, eu quis dizer "que estive ao seu lado nos momentos de dificuldade e até salvei sua vida em enchentes" - nunca teve nada além de uns bilhetes de "vou até a padaria, beijos, Roberto."

E é aí que a gente tem aquelas epifanias.

O que diabos eu ia fazer com uma poesia? Olhar, ler, achar lindo e depois ela ia parar na gaveta, junto com as das outras vadias - e dessa vez não me desculpo pela falta de decoro. Vadias essas que de você só tiveram a poesia, mas nunca o pão que você trazia pra casa depois do bilhete pífio. E o pão era bem quentinho e comíamos na mesa, com aqueles apoiadores de prato vermelhos - um deles estragado pelas mãos daquela empregada ineficiente com que preciso ter uma séria conversa - e bebíamos nossas cocas apoiadas nos porta-copos imaginários, incendiados em alguma de nossas insanidades.

Mas também, calma. Não vou falar que a poesia de verdade está na vida porque isso seria uma baita de uma breguice. Digo que não preciso dessas sentimentalidades mesmo. Muito me irrita viver em um mundo que não é o meu, e de nada me adianta uma palavra vazia enfeitada por métrica e teatralidade se eu acabei não ficando com o que eu queria de verdade - e continuo querendo.

Pois que limpem a bunda com essas poesias. Essa vida é bem mais dodecassílaba do que parece.

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